Ocorreu no último domingo (07), o sepultamento de Sirmar Antunes, um dos maiores atores do Rio Grande do Sul, que faleceu no sábado, dia 6 de agosto, em Porto Alegre.O Lanceiro Negro das Artes, como era conhecido, já contabilizava 48 anos de carreira e gravou obras clássicas do cinema como “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda” (1986), minisséries, documentários, curtas, peças teatrais, além de mais de 30 filmes, como “Netto Perde Sua Alma” e “Lua de Outubro”. Na televisão, já participou da novela global, Como uma Onda, em 2004, e também do Especial de Natal da Xuxa em 2009.Morador da Casa do Artista Riograndense, uma ONG sem fins lucrativos destinada a artistas com idade avançada, Sirmar deixou um legado incrível, com boa parte da trajetória atrelada a Santa Maria.
O gigante de alma generosa
O filme “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda” foi exibido em um cineclube que Luiz Alberto Cassol, diretor de cinema, frequentava. Foi lá que ele conheceu o trabalho de Sirmar Antunes e se encantou pelo artista que, posteriormente, se tornaria um grande amigo e também um ator frequente nos trabalhos do diretor. Após encontros esporádicos em Porto Alegre e no Festival de Gramado, Cassol convidou Sirmar para ser jurado no Festival Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC) e foi homenageado como ator convidado, recebendo o troféu Vento Norte como reconhecimento.– Ali pudemos ter uma conversa mais intensa, falar muito sobre cinema, teatro e arte. Ele era um grande declamador de poesia e também tinha uma atuação muito forte no movimento negro, uma atuação antirracista. Aqui em Santa Maria, ele foi homenageado duas vezes como ator convidado – relembra Cassol.Na 13ª edição do SMVC, em 2019, Sirmar fez parte novamente da comissão de jurados. A jornalista e pesquisadora de cinema Marilice Daronco, também parte do júri, já admirava o trabalho do ator e, ao conhecê-lo ao vivo, foi cativada pela generosidade do artista:– Eu tinha um histórico de conhecimento sobre o quanto ele era grande pra história do nosso cinema, em especial a história do cinema do RS, e como tudo que ele colocava a mão virava prêmio, porque ele tinha dedicação e talento. Pra mim, no meu imaginário, o Sirmar era aquele gigante, aquele ator super premiado tudo mais. Mas o que ele trouxe foi muito mais do que essa bagagem de prêmios, ele trouxe uma bagagem de muita generosidade e muito carinho – relata Marilice.Sirmar compartilhou vivências com os colegas de júri e também com o público do SMVC. Inclusive, na edição mais recente do festival, ele participou de um debate falando a respeito das dificuldades encontradas pelos profissionais negros do audiovisual.
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O olhar e o talento de Sirmar
Quem dirigia Sirmar, percebia o potencial do olhar do artista. O diretor de cinema Cassol contou com Sirmar no elenco de diversos trabalhos, incluindo as séries “Animal”, “Chuteira Preta” e o curta “Grito”, que levou várias premiações, entre elas: Melhor Ator para Sirmar Antunes e Clemente Viscaíno (Festival de Gramado – Mostra Gaúcha 2018), Melhor ator para Sirmar Antunes (Festcimm – Festival de Cinema no Meio do Mundo 2019) e recebeu menção honrosa no Festival De Cinema Itinerante Da Língua Portuguesa (Festin – Lisboa 2019). O curta necessitava de muita sensibilidade e afeto, atributos que Cassol encontrou nos atores Sirmar e Clemente:– Eu sempre dizia que o Sirmar tinha um olhar único, sempre verbalizei que ele era o grande ator do cinema gaúcho pela força do olhar dele – comenta Cassol.Tabajara Ruas, diretor de cinema e escritor, também trabalhou com Sirmar em diversos filmes. O primeiro deles foi “O Dia em que Dorival Encarou a Guarda” de Zé Pedro Goulart e Jorge Furtado, com roteiro baseado em um capítulo do livro “O Amor de Pedro Por João”, de Tabajara. A imagem que fica para o diretor, é de uma pessoa cativante e um excelente profissional:– Eu comecei a dirigir e ele esteve em quatro dos cinco longas que eu fiz. Ele era super profissional, sempre chegava na hora e sabia os textos na ponta da língua. Era um pacificador de set, onde ele estava sempre tinha alegria ao redor – recorda Tabajara Ruas.Com atuações marcantes e viscerais no teatro e no cinema, Sirmar deixa um legado de lutas e conquistas.– Ele deixa um grande legado nos filmes, pro teatro, ele deixa um grande legado pra luta antirracista, dos negros e negras do Brasil. E, pra mim, ele deixa um grande legado como um dos maiores atores brasileiros. Tem uma coisa especial e fundamental: ele influenciou uma série de atrizes e atores negros a fazerem cinema porque ele sabia da importância dele. Ele tinha essa exata noção do que ele representava. Ele inspirou e emocionou muita gente – relata o diretor Cassol.Sirmar recebeu muitas homenagens em vida. Uma das mais recentes ocorreu no Festival de Cinema de Gramado, em 2021, ocasião em que o ator recebeu o troféu Leonardo Machado pela carreira no cinema gaúcho. “Com este prêmio, pretendemos fazer jus à inestimável contribuição de Sirmar Antunes para o cinema gaúcho: um ícone, cuja história se confunde à de nosso cinema e cuja imagem está eternizada em tantas obras que marcam nossa produção”, justificou o júri do evento.
Filmografia de Sirmar
1979 — Domingo de Grenal, de Pereira Dias.1986 — O Dia em que Dorival Encarou a Guarda, curta de Zé Pedro Goulart e Jorge Furtado.1997 — Lua de Outubro, de Henrique de Freitas Lima.1998 — Quadrilha, curta de Mariangela Grando.1999 — Tolerância, de Carlos Gerbase.2001 — Netto Perde sua Alma, de Beto Souza e Tabajara Ruas (Sirmar recebeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no Festival de Cinema de Recife).2003 — Ponto de Vista, curta de Betânia Furtado (Melhor Ator no Prêmio Histórias Curtas, da RBS).2004 — A Retirada, de Christian Rolando Coelho.2004 — Concerto Campestre, de Henrique de Freitas Lima.2005 — A Última Estrada da Praia, de Fabiano Souza.2007 — Valsa para Bruno Stein, de Paulo Nascimento.2008 — Netto e o Domador de Cavalos, de Tabajara Ruas.2009 — A Invasão do Alegrete, curta de Diego Müller.2009 — Antes que Chova, curta de Daniel Marvel.2009 — Em Teu Nome, de Paulo Nascimento.2010 — Enquanto a Noite Não Chega, de Beto Souza.2012 — Amores Passageiros, curta de Augusto Canani.2014 — Gostos, curta de Patsy Cecato.2014 — Os Senhores da Guerra, de Tabajara Ruas.2015 — Fábula de Porongos, curta de Manuela Furtado.2016 — A Superfície da Sombra, de Paulo Nascimento.2016 — Pedro Sobre a Cama, de Paulo Pons.2017 — Cidade Baixa: Som e Boemia, curta de Fausto Prado.2017 — Em 97 Era Assim, de Zeca Brito.2018 — A Cabeça de Gumercindo Saraiva, de Tabajara Ruas.2018 — Cidade Dormitório, de Evandro Berlesi.2018 — Grito, curta de Luiz Alberto Cassol (Melhor Ator na Mostra Gaúcha do Festival de Gramado).2018 — Sirmar: O Lanceiro Negro, documentário de Frederico Restori
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